Considerado parte de uma rota importante do tráfico de drogas
internacional, o Ceará também está sendo visto como um ponto para a lavagem de
dinheiro. Investimentos romenos, inclusive do líder da Câmara dos Deputados da
Romênia e do Partido Social Democrata do País no leste europeu, estão sendo
investigados, através de uma cooperação jurídica internacional.
O Diário do Nordeste teve acesso a documentos que comprovam que os
estrangeiros, suspeitos de participarem do esquema, injetaram ao menos R$ 4,4
milhões no Estado, com a criação de duas empresas. Também foram adquiridos
imóveis de luxo no litoral cearense, principalmente na Praia do Cumbuco, em
Caucaia, Região Metropolitana de Fortaleza (RMF).
"Essa investigação surgiu após informações da compra de
imóveis no Cumbuco, por empresários romenos, que estavam sendo investigados no
País deles por desvio de recursos. O Ministério Público da Romênia entrou em
contato com o Ministério Público Federal (MPF-CE) em julho de 2017. Desde
então, estamos realizando diligências de levantamento dessas informações",
relatou o procurador da República no Ceará, Carlos Wagner Barbosa Guimarães.
O líder das negociatas seria o presidente da Câmara romena, o
deputado Liviu Dragnea. No seu País, ele é investigado por atos de corrupção e
já chegou a ser condenado a dois anos de prisão por abuso de poder político,
para influenciar campanhas, mas a sentença está suspensa.
Os empresários romenos Mugurel Sorin Gheorgias e Costel Comana
também são alvo das apurações do MPF-CE. Ambos aparecem em contratos de
empresas registradas na Junta Comercial do Ceará (Jucec).
Desvios
O procurador da República que está responsável pelo caso, no
Brasil, revelou que "há uma movimentação de recursos que o Ministério
Público da Romênia entende como desvio de recursos". Para lavar esse
dinheiro 'sujo' no Ceará, os romenos estariam utilizando cearenses como seus
'laranjas'. Uma das empresas registrada em território cearense, com raiz
romena, é a M&J Investimentos Turísticos Ltda., que tem como nome fantasia
'Jangadas Hotel'.
A firma atua nos ramos de hotelaria, restaurantes, bares e locação
de veículos.
Registrada em janeiro de 2010 na Junta Comercial, a empresa tem
como sócios o romeno Mugurel Gheorgias, com o capital social de R$ 1.584.000; e
o cearense Cauby Cursino Campos Júnior, com o capital social de R$ 16.000. Em
agosto de 2011, o capital do estrangeiro aumentou R$ 200.000.
A outra empresa é a Robra Construção Ltda., conhecida como 'Robra',
que atua com compra, venda e aluguel de imóveis próprios e suas ramificações. A
inscrição da empresa foi feita na Junta em fevereiro de 2014. Os sócios da Robra
são o romeno Costel Comana e, mais uma vez, Cauby Júnior. O estrangeiro tinha o
capital social de R$ 2.700.000, enquanto o brasileiro entrou com R$ 300.000.
Cauby seria o principal 'laranja' do esquema, de acordo com a
investigação. Nos dois negócios, ele representa os estrangeiros por meio de uma
procuração. Em uma alteração, em setembro de 2016, no registro na Junta, a
esposa dele, Aysla Karine da Rocha Santos Campos, também aparece como sócia da
Robra. Procurado pela reportagem para esclarecer a sua participação e da mulher
no suposto esquema de lavagem de dinheiro, Cauby não atendeu às ligações.
Luxuosa
Conforme reportagem da rede internacional de jornalismo
investigativo Organized Crime and Corruption Reporting Project (OCCRP), uma
residência luxuosa, localizada na Avenida Leste e com vistas para o mar; e um
apartamento no Dream Beach Ocean View Condominium, na Avenida dos Coqueiros,
ambos na Praia do Cumbuco, pertencem aos romenos.
O procurador Carlos Wagner afirmou que o MPF-CE já identificou, pelo
menos, seis imóveis, todos na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF), que
pertencem ao grupo investigado. Entretanto, devido ao sigilo das apurações, ele
não detalhou os endereços das propriedades.
Segundo o membro do Ministério Público Federal, todos os bens estão
sendo levantados e, se for comprovada a lavagem de dinheiro, os suspeitos irão
responder à Justiça do Brasil. "Estamos aguardando informações dos órgãos,
cartórios, sistemas de banco de dados, quebra do sigilo bancário. Dependendo do
resultado, pode ser aberta uma ação penal ou ser arquivado".
Ainda de acordo com a rede OCCRP, Costel Comana começou a viver uma
nova vida, no Cumbuco, a partir de 2014, após ter viajado de férias, várias
vezes, para a praia cearense. Já Gheorghia teria iniciado a investir no Cumbuco
em 2010 e, em um ano, teria transferido dinheiro, pelo menos, seis vezes ao
Brasil. Os dois empresários são apontados, pela publicação, como homens de
confiança do político Liviu Dragnea.
O suposto esquema criminoso fica ainda mais misterioso com a morte
de Costel Comana, em 2015. Ele foi encontrado enforcado por cadarços de sapato,
dentro do banheiro de um avião, na Costa Rica, na América Central. A
investigação da Polícia apontou para um suicídio.
Rd; DN