Jovem de Fortaleza passa para duas faculdades após passar
quatro anos preso.
Os ensinamentos do educador Paulo Freire inspiraram a
mudança na vida de Aurelio Maia, 26 anos, aprovado em duas faculdades do Ceará
enquanto estava preso. O jovem passou ao regime domiciliar em junho deste ano,
após ser aprovado no curso de licenciatura em ciências sociais, da Universidade
Federal do Ceará (UFC); e posteriormente, na licenciatura em física, do
Instituto Federal do Ceará (IFCE).
“Costumo sempre citar o nome de um grande pedagogo: Paulo
Freire. Ele disse que ‘estudar é um ato revolucionário’. Estudar é a maior arma
que se tem contra o sistema. A minha maior alternativa para a minha liberdade,
para que eu pudesse me reinserir na sociedade, foi estudar. Então, é um
conselho que eu deixo: estudar é a melhor saída. Estudar, além de revolucionário,
é libertador”, diz Aurelio.
Solto em 2019, borracheiro que ficou 5 anos preso
injustamente no Ceará sofre para se readaptar
Aurélio foi condenado em 2017 a uma pena de 17 anos e
oito meses pelo crime de roubo, previsto no artigo 157 do Código Penal, mas nos
quatro anos que passou detido encontrou na educação um caminho para a
liberdade.
As notas do Enem para Pessoas Privadas de Liberdade (Enem
PPL) de 2020 permitiram a entrada na universidade. Depois de ser aprovado na
UFC, ele teve de optar por física por causa de uma oferta de emprego. Ele vai
começar o curso no IFCE no próximo semestre.
“Agora estou cursando ciências sociais pela manhã, mas
por conta de uma oferta de emprego da Coordenadoria de Inclusão Social do Preso
e do Egresso, eu tive a necessidade de fazer uma graduação à noite, que foi
quando veio a aprovação em física no IFCE. Por eu ter interesse em trabalhar
durante o dia, eu me inscrevi para o processo seletivo do segundo semestre”,
explica o universitário.
Segundo a Secretaria da Administração Penitenciária
(SAP), Aurélio passou por uma seleção na Coordenadoria de Inclusão Social do
Preso e do Egresso da pasta e foi selecionado para uma vaga de auxiliar
administrativo, sendo encaminhado um pedido ao fórum para a efetivação da
contratação.
Para Aurélio, a disciplina de física é uma aptidão desde
o ensino médio. “Eu pretendo me manter no curso de física por ser uma das
disciplinas que eu tinha afinidade e aptidão durante o ensino médio e também
por me possibilitar uma forma de gerar minha renda”, diz Aurelio.
Arquivo N contou a história e os métodos do educador
Paulo Freire em janeiro de 2019; confira no vídeo acima.
Arquivo N contou a história e os métodos do educador
Paulo Freire em janeiro de 2019; confira no vídeo acima.
Dificuldades no processo
Aurélio estudou enquanto estava preso — Foto: Reprodução
Aurélio estudou enquanto estava preso — Foto: Reprodução
O jovem comemora a oportunidade de seguir um novo
caminho, sem esquecer as lições dos momentos difíceis antes das aprovações. Aurelio
revela, inclusive, que foram os familiares dele que realizaram a matrícula no
Sistema de Seleção Unificada (Sisu), pois ele ainda estava recluso.
“A minha maior motivação era minha liberdade em si. Eu
fiquei sabendo que havia uma alternativa para que eu conseguisse um benefício
de estar no regime semiaberto caso eu conseguisse aprovação em uma
universidade”, destaca o jovem.
Aurelio destaca também, entre outros pontos, a
dificuldade em conseguir materiais e locais adequados para estudar. “Foi bastante
sofrido também pelo ambiente em si, a superlotação, a falta de iluminação e
algumas outras dificuldades que a gente tem de superar”, lembra o
universitário.